segunda-feira, 5 de março de 2018

A MÚSICA



Acabo de ouvir, não de meramente escutar, que é tão superficial, acabo de ouvir Lucio Dalla, cantando Caruso.
É entardecer de domingo e, em torno e por sobre mim, pássaros também estão cantando.
A música, quando bela e plena de significado, une as criaturas entre si, e com o Criador.
Além de unir, a música, encantando-nos, docemente conduz-nos ao infinito porque enquanto a ouvimos, o sentimento que nos envolve é de que ultrapassamos os limites do tempo e do espaço.
O mundo, hoje, está doente.
Doente porque enclausurado em poder mais, possuir mais, prazer mais.
Essa voracidade quantificadora estreita-nos.
Mulheres e homens medíocres, em todos os quadrantes, porque a mediocridade é a expressão do superficial e do efêmero.
Agora, Ellis Regina e Tom Jobim, tão a propósito, em “Águas de Março” e a narrativa do cotidiano humano com tudo aquilo que o cerca.
Se é certo que as “Águas de Março fecham o verão”, todavia nada se fecha para sempre porque há sempre “promessa de vida no teu coração”.
É por aí: nós todos, mulheres e homens, somos “promessa de vida” e, por isso, existimos.
Não existimos para nos dissolvermos, nos consumirmos, nos metamorfosearmos.
Não existimos para sermos reduzidos a objetos de manipulação posta em esquemas montados, tão pouco para nos travestirmos em cenários coisificados a provocar estardalhaços, nem para nos reduzirmos a caricaturas inexpressivas da produção midiática.
Existimos, por isso que somos, para que o amanhã já se perceba, hoje. Portanto, para que o futuro não se faça longínquo, mas germine no presente, e construamos nossa história, incessantemente.
Não há o fim da história enquanto vida houver.
É o que se chama: esperança.
Esperança não é, passivamente, aguardar. Também não é, passivamente, desejar.
Esperança, porque é “promessa de vida no teu coração” é compromisso real, concreto, verdadeiro que nos dá sentido e, nos dando sentido, nos faz viver. Viver, portanto, é fazer sentido.
Faço sentido, então, mantendo-me íntegro no que sou e no que faço e, na integridade do que sou e do que faço, lugar não há para concessões utilitaristas, nem de fuga.
Anoitece. O sol se põe e acontece o silêncio onde estou, mas a harmonia da música, essa, permanece.






Um comentário:

Anônimo disse...

A musica é elemento fundamental na educação.É vibração pura, é harmonia.
Obrigado Dr. Fonteles.