sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

DEIXEM A LUZ NASCER; DEIXEM A VIDA VIVER

                                      

Tempos de exacerbada centralização egoística, tempos de falar desenfreado, deseducado e ofensivo, tempos, assim, que produzem lamentáveis desacertos.
Eis, muito a propósito, que tema vital ao convívio na formação de valores a definir a razão de ser da sociedade brasileira é decidido por modo absolutamente incompatível com o primado da democracia.
Com efeito, órgão fracionado – a turma – do Supremo Tribunal Federal e – é de se pasmar -, pelo pronunciamento escassíssimo de três (3) de seus componentes, revoga preceito do Código Penal, legalizando a prática do aborto até o terceiro (3º) mês da gestação.
É da índole da democracia que, repito o que disse acima, “tema vital ao convívio na formação de valores a definir a razão de ser da sociedade brasileira” tenha no Parlamento a sede natural de amplos debates e definição. Jamais em uma sala circunscrita às considerações de magistradas e magistrados, cujo número não atinge os dedos, sequer de uma de nossas mãos, por mais iluminados que acreditem ser.
O ministro Luis Roberto Barroso – e aqui o menciono porque capitaneou a formação da maioria dos três (3) votos – em palavras transcritas pelo jornal Correio Braziliense, na edição do dia 1º do mês em curso, página 6, disse:
“É uma decisão para que se adotem políticas públicas melhores do que a criminalização para evitar o aborto”.
E em outra passagem de sua entrevista:
“O Estado não deve tomar partido nessa briga. Ele deve permitir que cada um viva a própria crença”.
Essas afirmações não procedem.
Políticas públicas,sim, mas que retratem o compromisso real de defesa da vida o que – e isso é óbvio – significa, no caso brasileiro, dar o passo seguinte àquele dado em relação à violência conjugal contra a mulher, com a promulgação, em boa hora, da lei “Maria da Penha” e, assim, imperativo faz-se promulgar a lei “Maria do Abandono” justamente para que a mulher, que engravidou, e por isso queda por todos abandonada, receba dos serviços públicos acolhida completa e concreta, ela e sua filha, ou filho. Se não o desejar, que seja orientada a entregá-lo para adoção porque tantos são os casais que estão nessa angustiosa fila de espera para concretizar maternidade e paternidade tão maravilhosa e importante quanto a natural. Se com todas essas opções que lhe são oferecidas, decidir por matar sua filha, ou filho, então há de responder, por si ou com terceiros, pelo crime de aborto porque tudo se lhe concedeu e tudo, conscientemente, menosprezou.
Como se vê – e agora respondo à segunda afirmação do ministro Luis Roberto Barros – não há briga alguma, assim como a questão nada tem a ver com: “que cada um viva a sua própria crença”.
Todo o tema está, e se esgota – também já o disse linhas atrás -, “na formação de valores a definir a razão de ser da sociedade brasileira”.
Isso é constitucionalmente reservado ao Parlamento na definição de políticas públicas a serem implementadas pelo Executivo.
O Natal aproxima-se.
Natal é nascer.
Na língua que nós, brasileiras e brasileiros, falamos há expressão tão bonita e plena de sentido a apresentar, com exatidão, a gravidez: Dizemos, assim: “a mãe está para dar a luz”.
Sim, “dar a luz”.
Não há mais a escuridão do nada, a escuridão da ausência.
É apropriado, penso eu, realçar, aqui e agora, as palavras de Tomás de Celano, biógrafo de São Francisco de Assis, bem a propósito do significado do Natal e sobre o pedido do Santo de Assis à comunidade de Greccio para fazer um presépio:
“Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros”. (leia-se: Tomás de Celano – Vita Prima – em Fontes Franciscanas nº 85 – pg. 242).
Deixem a luz nascer; deixem a vida viver.

                                     Feliz Natal!  



  

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

"PERDEMOS TODOS"

                                         

Sob o título “Perdemos todos”, destaco palavras do jornalista Ricardo Noblat:

A MÍDIA AMERICANA, mas não só, assumiu como sua principal tarefa derrotar o misógino, sexista, racista, sonegador de impostos e temerário Trump. Compreensível que procedesse assim por meio de editoriais e de reportagens de investigação sobre personagem tão perigoso para o futuro do país e do planeta. Um homem asqueroso pelo que diz, fez e fará... FERIU TALVEZ DE morte axiomas que a sustentam e a legitimam, tais como a busca de isenção e equilíbrio, o principal pilar da sua credibilidade, e a oferta de visões conflitantes. Incorreu no erro primário, elementar, de confundir o que queria que acontecesse com o que poderia acontecer. Resultado: colheu um desastre de consequências retumbantes, talvez irreparáveis.” (coluna no jornal O Globo de 14.11.2016 – pg. 2).
Concluiu Ricardo Noblat:
“O DESCOLAMENTO DA mídia da realidade, seja por cegueira deliberada ou acidental, seja por partidarismo ou qualquer outro interesse inconfessável, não é um fenômeno Made in USA. Tem a ver com a crise universal do jornalismo, abalado pelo surgimento de novas mídias sem compromisso com a verdade. E só faz mal à democracia e à construção de um mundo menos desigual.”
Situação idêntica aconteceu em nosso Brasil.
A grande mídia brasileira fez perdurar, em diuturnas e bombásticas manchetes, quadro de noticiário até que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef fossem apeados do poder político de que desfrutava, notoriamente, o primeiro e exercido era, fruto de eleição corretamente conquistada, pela segunda.
Se é certo que a agremiação política a que pertencem – o Partido dos Trabalhadores -, por lideranças nefastas, deixou-se contaminar e, assim, sucumbiu ao mais deletério jogo de poder, traduzido no “toma lá, dá cá”, na inescrupulosa barganha política, para se perpetuar liderando a nação brasileira, o aparato midiático transformou esse partido, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef nos responsáveis únicos e exclusivos pelo negativo estado de coisas em que nós, brasileiras e brasileiros, mergulhamos.
Onde está o compromisso com a verdade, ponto essencial, e que no dizer de Ricardo Noblat marca “a crise universal do jornalismo”?
Muito a propósito, colho pertinente reflexão de São João Paulo II, em sua Carta Encíclica “Centesimus Annus”:

“Um obstáculo a tal crescimento pode vir da manipulação realizada por alguns meios de comunicação social, que impõem, pela força de uma bem orquestrada insistência, modos e movimentos de opinião, sem ser possível submeter a um exame crítico as premissas sobre as quais se fundamentam.” (leia-se: Centesimus Annus – nº 41 – pg. 78).
Sim, “a manipulação” das consciências pela “força de uma bem orquestrada insistência”.
Insistência que não se vê, porque reduzido a poucos dias de noticiário, em relação aos sucessivos escândalos que corroem o governo Temer e seus personagens de confiança: Henrique Eduardo Alves; Romero Jucá; Geddel Vieira Lima – esses já em situação de investigação consolidada-; Moreira Franco e Eliseu Padilha, em apuração; recordando-se, outrossim, o recebimento de denúncia, pelo Supremo Tribunal Federal,  contra Renan Calheiros. Todos esses personagens – e não nos esqueçamos, também, de Eduardo Cunha - pertencem ao PMDB.
A gravidade da conduta de Geddel Vieira Lima, para focarmos dado de que já não se fala, pessoa da mais estreita confiança de Michel Temer, gravidade, repito, já esquecida pela grande mídia, todavia generosa em destacar que:

“Em todas as respostas, o presidente tratou de colocar claramente o seu estilo de resolver as coisas evitando confrontos diretos. A coisa que mais fiz na vida foi arbitrar conflitos, disse Temer, referindo-se ao ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que teria gravado a última conversa que teve no gabinete presidencial, atitude que Temer chamou de “agressiva, ilógica, indigna e desarrazoada.” (jornal Coreio Braziliense de 28.11.2016 – pg. 2).
Ora, não há conflito a ser arbitrado entre a conduta funcional, corretíssima, do então Ministro Marcelo Calero e a conduta funcional, de óbvia ilicitude, do então Ministro Geddel Vieira Lima.
O primeiro manteve irretocável postura, pela negativa, ante as pressões, dissimuladas ou claras, que sofria de Geddel Vieira Lima com o beneplácito do colega Eliseu Padilha e o envolvimento direto de Michel Temer para que, em detrimento do interesse público, privilegiasse investimento patrimonial pessoal, totalmente ilegal: autorizar construção de unidades habitacionais verticalizadas em manifesto comprometimento do patrimônio histórico-urbano como afirmado pelos competentes órgãos da administração pública federal.
Também a circunstância de Marcelo Calero ter gravado as conversas que caracterizam esse ilegal cenário nada tem de “agressivo, ilógico, indigno e desarrazoado”, como publicamente enfatizou Michel Temer, beneplacitado pela grande mídia.
Constrangido, acuado, por servidores públicos de seu mesmo nível hierárquico, mas que notoriamente privavam, e privam, da amizade estreita do Chefe Maior, justo para que, ulteriormente, não se voltasse exclusivamente contra si a responsabilidade pela ilícita decisão, que se lhe cobrava, insistentemente, a Marcelo Calero só restava garantir-se, e garantir-se cuidando de obter meios, claros e concretos, à demonstração da verdade.
Também o Papa Francisco, certo que se volta no que diz ao alerta para os anunciadores da mensagem evangélica, com total pertinência registra:

“No mundo atual, com a velocidade das comunicações e a seleção interessada dos conteúdos feita pelos meios de comunicação social, a mensagem que anunciamos corre mais do que nunca o risco de aparecer mutilada e reduzida a alguns dos seus aspectos secundários.” ( leia-se: Evangelii Gaudium – nº 34 – pg. 31, grifei).
Importa, e aqui radica a essência vital da imprensa: informar, para formar, jamais deformar.
Se não for assim: “perdemos todos.”