sábado, 9 de abril de 2016

ALGUÉM ESTEVE, E ESTÁ, NO MEIO DE NÓS



 Mulher descabelada em palco a berrar frases e palavras de ordem, que vociferam a carga pesada da virulência, aplaudida por um tímido nonagenário.
Jovem magistrado que não hesita em expor-se, publicamente, em protesto político contra pessoa determinada e, assim mesmo, chama a si holofotes para julgar pleito contra ato dessa mesma pessoa.
Holofotes também são acionados por promotores de justiça em exposição midiática para agitar pedido de prisão preventiva contra determinado líder político e, quando a magistrada não recebe tal pleito, dizendo-os sem atribuições funcionais ao que ajuizaram, calam-se esses promotores de justiça, nada dizem, e desaparecem.
São tempos difíceis, mas não devemos temer os tempos difíceis, desde que nós os consideremos como propícios ao aprendizado.
Mas que aprendizado podemos extrair da balbúrdia, do grotesco, do sensacionalismo direcionado e superficial?
Ora, o passo a se dar é justamente esse, posto em indagação: inserir os episódios, que acontecem, num fio condutor, ou dizê-los atomizados, sem qualquer ligação entre si?
Tenho para mim que, na vida, tudo está em contínua interação. Mesmo quem se põe alheio não deixa de fazer referência ao do que se afasta.
Portanto, há sempre o fio condutor, ou mais de um fio condutor, no que se passa.
E qual é o fio condutor nos três fatos, acima abordados?
A total falta de serenidade no responder às indagações do cotidiano.
Realmente, a velocidade é a marca do comportamento do que se convencionou chamar de pós-modernidade: um toque, o digitalizar e o resultado é imediato; consome-se, no ato; usam-se, pessoas e coisas, no instante. O cenário, que assim surge, é o da informação avassaladora, ininterrupta, destituída de qualquer análise ponderada, fundamentada e consistente.
Nunca se informou tanto; se formou tão pouco e se deformou em demasia.
O Papa Francisco, em seus escritos tão cheios de sabedoria, tem nos ensinado muito.
Colho, e ofereço-lhes amigas e amigos leitoras e leitores, trecho presente na Carta Encíclica “Laudato Si”, que considero pertinente:
“222. A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo. É importante adotar um antigo ensinamento, presente em distintas tradições religiosas e também na Bíblia. Trata-se da convicção de que “quanto menos, tanto mais”. Com efeito, a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. Pelo contrário, tornar-se serenamente presente diante de cada realidade, por menor que seja, abre-nos mais possibilidades de compreensão e realização pessoal. A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar e saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece, sem nos apegarmos ao que temos nem nos entristecermos por aquilo que não possuímos. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres.” ( leia-se Laudato Si – pg. 177 ).
Vejam vocês que nos dias de hoje, e para refrear arroubos emocionais, destemperos apressados, e chamar a atenção daquele que assim se conduz para o equilíbrio no ser, dizemos, popularmente: “menos Fulano, menos...
Assim, aquela mulher não teria se escabelado e vociferado; o magistrado não teria se exposto desnecessariamente e os promotores de justiça não teriam protagonizado incoerência.
Mais uma eloquente passagem da “Laudato Si”, tão apropriada:
“225. Por outro lado, ninguém pode amadurecer em uma sobriedade feliz, se não estiver em paz consigo mesmo. E parte de uma adequada compreensão da espiritualidade consiste em alargar a nossa compreensão da paz, que é muito mais do que a ausência de guerra. A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida, reflete-se em um equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida. A natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa ou do culto da notoriedade? Muitas pessoas experimentam um desequilíbrio profundo, que as impele a fazer as coisas a toda a velocidade para se sentirem ocupadas, em uma pressa constante que, por sua vez, as leva a atropelar tudo o que têm a seu redor.” ( leia-se: Laudato Si – pg. 179 ).
Realmente, é fundamental desejar bom-dia para quem pensa de modo diverso do nosso pensar; desenvolver a paciência de ouvir, sem se apressar em redarguir aquele que fala, mesmo que seu falar seja lento, ou repetitivo; por-se no lugar de quem é diferente de nós e, assim, viver o próximo não como alguém que está fora de nós, mas que é o nosso “outro eu”, por isso que nos envolvemos com ele.
Alguém esteve, e está, no meio de nós, sempre nos oferecendo o seu viver: Jesus Cristo.

                                            Paz e Bem!




8 comentários:

Walterney disse...

Senhor Claudio Fonteles. Lhe agradeço as palavras sóbrias, certeiras e amorosamente chacoalhantes.
Muito obrigado! É o que vibro em lhe dizer.

Claudio Fonteles disse...

Muito agradecido por suas palavras, Waltereny.

Paz e Bem,
Claudio.

Unknown disse...

O que me deixa triste nisto tudo é que as pessoas não percebem a nossa riqueza, nosso diferencial enquanto nação. Muito bom ler suas palavras serenas, Claudio. Que consigamos atravessar este momento sem esmorecer, sem perder a fé no nosso país.

Dirceu Antonio Dalavilla disse...

Dr. Cláudio, sábias palavras, porém muitos não querem ouvir las.

Acácio disse...

Com a sua caminhada franciscana, inclusive no exercício de Serviço à Nação como Procurador Geral, temos uma luz, um sinal como o "pobrezinho de Assis" acendeu a séculos passados.
Que Deus lhe dê muitos anos de serviço e de exemplo ao país.
Paz e Bem!

Anônimo disse...

Pelo que entendi dos ensinamentos do espírito,o eu interior é o mais importante o crescimento onde o homem vai encontrar a felicidade suprema.
O mundo ensina que as pessoas serão felizes e realizadas se obtiverem bens
E o mestre verdadeiro ensina que seus bens mais preciosos são internos e duradouros...como a paz o amor!
Não existe felicidade maior do que a pessoa crescer em espírito, constantemente sentir paz,sentir harmonia se sentir bem...
Encontrar seu coração e ao mesmo tempo entrar no coração de Deus,pois foi dito
que onde está seu tesouro,estará seu coração, Desfrutar da vida simples e sofisticado,como nosso pai.

Claudio Fonteles disse...

Humberto, Dirceu, Acácio e Anônimo agradecido pelos comentários. Sim, Humberto, não vamos esmorecer e haveremos de superar este momento porque somos povo alegre e muito criativo. Dirceu, finalizando a Epístola a Timóteo, a segunda epístola, S. Paulo dizia: "proclama a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, convence, repreende, exorta com toda a paciência e com a preocupação de ensinar" ( 2Tm 4,2 ): é a bela missão de quem se põe ao diálogo; Acácio, realmente, busco Jesus, fazê-lo em meu viver, seguindo, ainda que vacilante, as pegadas do Poverello de Assis. Anônimo, você tem toda a razão: os bens mais preciosos são internos e, por isso, duradouros. Mais uma vez, agradecido a todos. Paz e Bem.

OMENA disse...

POR FAVOR ESCREVA SOBRE OS 800 ANOS DO PERDÃO DE ASSIS E O JUBILEU DA MISERICORDIA.