quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

“Eu disse que, independentemente disso, ela ia ser feliz.”

Dois burocratas da Organização das Nações Unidas, a ONU, valendo-se do estrépito midiático, e a pretexto de se posicionarem sobre os casos de microcefalia, bradam pela eliminação dos fetos, em tal situação, conclamando países a que franqueiem as práticas abortivas.
É estarrecedor o nível de insensibilidade e de irresponsabilidade atingido em tal proceder.
Cientistas do mundo todo, debruçados ainda estão à busca da melhor compreensão desse fenômeno e esses arautos – que ironia, incrustados nos serviços de promoção dos direitos humanos da mencionada organização internacional - já sentenciam o que se há de fazer: matar as vidas humanas presentes em gestação.
Como sempre se escapa para o que se faz “up to date”, “politicamente correto”, sob o frívolo argumento de que somos “atrasados” ao não adotarmos essa solução, e assim fica obscurecida, e esquecida, primeira e necessária crítica aos governantes.
Com efeito, a proliferação do mosquito “aedes” está na razão direta da indesculpável negligência desses governantes em priorizar os temas de educação e saúde, só usados demagogicamente nas proximidades dos pleitos eleitorais, centrando as políticas de governos em faraônicas obras, expressão eloquente do nefasto conluio empreiteiros-governantes, de que se faz exemplo notório o nosso Brasil, sob a batuta glacial do sistema econômico-financeiro, que tudo quantifica, que tudo reduz a números, inclusive nossas próprias vidas, que não mais têm valor em si, mas que unicamente valem pelo que podem, materialmente, produzir.
Nesse quadro encaixa-se, perfeitamente, o simplismo na decisão dos burocratas da ONU.
Hoje, tudo se faz rápido: como eu quero, quando eu quero, onde eu quero. Nada, nem ninguém, me ouse estorvar.
“O médico disse que minha filha não ia andar, sorrir, falar. Eu disse que, independentemente disso, ela ia ser feliz.”
Gilcinea Rangel Pecenti, mulher e mãe, não desistiu de Luana quando, no 7º mês de gravidez, ao diagnóstico de microcefalia somou-se a identificação de paralisia cerebral.
Luana é hoje adolescente de 16 anos. Vale a pena ler a reportagem publicada pelo jornal “O Globo”, do domingo passado, dia 7, na página 3, e encantar-se com o gesto e sorriso largos – “o médico disse que ela não sorriria” – de Luana e a tão intensa alegria de sua mãe Gilcinea.
Agora, e a partir dessa matéria jornalística, outra constatação: acovardam-se governantes que, diante dessas situações, não ordenam à área de saúde, que comandam, imediatas e eficazes medidas de acesso a medicação e tratamento gratuito a todas essas vidas quer no momento intra-uterino, quer extra-uterino. Dinheiro há, sim, e de sobra. Basta que não escorram, diuturnamente, pelos lava-jatos, mensalões dos dias de hoje e cartas circulares – CC nº 5- ( escândalo do BANESTADO) do passado, e tantas e tantas outras situações, nesse festival ininterrupto da nefasta corrupção.
O jornal “O Estado de São Paulo”, anteontem, segunda-feira, dia 8, na editoria de saúde destacou que “a evolução de crianças com microcefalia depende de repetição e paciência.” Sintetiza, com objetividade, que:
“O caminho não é fácil, e ninguém diz que é, mas para quem tem a sorte de receber o tratamento e os incentivos adequados desde o nascimento, a vida com microcefalia pode ser longa, saudável e, por que não, feliz”.
Lamentavelmente vive-se o tempo da absolutização da estética e do menosprezo da ética.
Encerro com palavras plenas de sentido do Papa Francisco, escritas em sua tão valiosa Carta Encíclica “Laudato Si sobre o cuidado da casa comum”:
“Quando, na própria realidade, não de reconhece a importância de um pobre, de um embrião humano, de uma pessoa com deficiência – só para dar alguns exemplos – dificilmente se saberá escutar os gritos da própria natureza. Tudo está interligado. Se o ser humano se declara autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base de sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza.
118.Esta situação leva-nos a uma esquizofrenia permanente, que se estende na exaltação tecnocrática, que não reconhece nos outros seres um valor próprio, até à reação de negar qualquer valor peculiar ao ser humano.” ( leia-se: Carta Encíclica Laudato Si nº 117/118 – pg. 96/97 ).