quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mulher e Homem: mãe e pai.

                         

                                                                     
 É sabido que as defensoras da ideologia de gênero posicionam-se no sentido de que é indeclinável a distinção entre o que é natural e biológico e o que é social e culturalmente construído. Uma vez que o natural e biológico traz a marca da definitividade importa proceder à sua desconstrução pelo acontecer sócio-cultural, que é contingente, propiciando então que tudo se relativize. Assim, conceitos absolutos como mulher e homem; mãe e pai; esposo e esposa; casamento e família não têm mais razão de ser: basta que se fale em uniões: tout court.
Subjacente a essa concepção, motivando-a, partem essas defensoras da ideia de que a palavra sexo traz o ranço negativo da subserviência das mulheres aos homens e a sua permanência, como posta, significa retrocesso às conquistas femininas, daí porque gênero, como construção social, não tem definição e não necessita tê-la. Chega-se a dizer que a família é elaboração da “classe dominante”, expressão hegemônica cujo objetivo radica no apequenamento e menosprezo à mulher.
Tais posições são insustentáveis.
Com efeito, conceitos há que não se relativizam.
Ninguém pode chamar ao dia, noite, assim como não se pode chamar à noite, dia. A natureza, pela presença da luz solar, define o dia; pela ausência da luz solar, a natureza define a noite.
Também assim, a vida fetal já se reconhece, dado o avanço da medicina nos exames intra uterinos, como feminina, presente a formação corpórea definida irrefragavelmente pela natureza, e masculina, pela mesma razão.
Se anomalias acontecem – e pensemos nos casos exíguos dos hermafroditas -, por certo o que é excepcional não pode chancelar a ideologia de gênero porque, nesses casos, o que se dá é a oportunidade ulterior de definição do sexo, e não sua abolição.
Por outra linha de argumentação, não é com a eliminação da definição natural de mulher e homem que se alcançará a igualdade social entre mulher e homem.
A desigualdade social entre mulher e homem, agora sim, é ranço cultural na construção de sociedade machista, que não se abole pela eliminação da sexualidade peculiar a ambos, mas pelo permanente processo educativo, iniciado desde a mais tenra idade que, enfatizando a complementaridade de ambos, justamente porque são diversos, constantemente realce, promovendo, a diretriz segundo a qual a complementaridade sempre pressupõe a absoluta igualdade.
Ainda outro dado de fundamentação, de relevo: a maternidade e a paternidade não conferem aos pais, na relação com os filhos, direito de deles disporem como bem entenderem. Não é assim. Os filhos gerados, sim, é que em relação aos pais e nessa situação têm o direito que lhes seja assegurado: o viver, o proteger, o educar, o sexo naturalmente definido.
Não se pode, portanto, matar o próprio filho, não protegê-lo, não educá-lo, não respeitar o seu sexo naturalmente definido.
Natureza e cultura não são antagônicas.

O que se é, naturalmente, assim se é para se realizar, culturalmente.

2 comentários:

mirijoo disse...

Olá querido professor;
Boa tarde

Será que o senhor ´poderia visitar a Paróquia S. Mateus em Sobradinho para uma palestra a respeito deste tema: Ideologia de Gênero.
Meu nome é Diácono Ubiracildo
Tel. 8400-0758
Gostaria se fosse possível a sua digníssima presença.

Marllus disse...

Caro Prof. Fonteles,

Gostei bastante do teu artigo e sei que você é uma pessoa sensata. Por isto, compartilho minhas dúvidas, quiça angústias.

Este tema me causou alguns desconfortos com amigos e também ao ver alguns depoimentos, sobretudo vídeos. Isto porque a mobilização feita em alguns locais me pareceu ter outro pano de fundo: o político. Percebi isto após ver que vários católicos, de forma que considerei exagerada, conclamavam os irmãos a irem às câmaras municipais gritar contra o governo que, sorrateiramente, quer implantar esta ideologia como parte de um programa geral do estado total, no qual nenhum pai e nenhuma mãe teria o direito de criar seus filhos como achassem mais conveniente.

Por que eu comecei a ver exageros? Bom, eu conheço bem o Secretário adjunto do município, pois é meu colega na Universidade. Conheço um pouco a secretária, pois foi Reitora na minha universidade. Os dois são católicos. Minha esposa conhece a assessora de imprensa da secretaria da educação, que é Batista. O primeiro e a terceira disseram que se cansaram de explicar na imprensa e aos conhecidos que não havia intenção da Prefeitura implantar tal ideologia; inclusive o Prefeito atual é do Principal partido de oposição ao gov. Federal.

No entanto, começaram-se a divulgar coisas nas redes sociais, tais como cartilhas falsas do MEC com coisas horrorosas, depoimentos de mães desesperadas, notícias falsas de que em escola Marista da cidade já havia banheiro único. Depois, pesquisando na rede, vi que o rapaz palestrante era do Movimento Brasil Livre que propaga ideias como ex-comunhão da Presidente, etc.

Eu achei um exagero tal que comecei a me sentir mal, achar-me menos católico, comecei a ficar meio em depressão porque me acho uma pessoa tolerante e sei que, mesmo tendo um pensamento político de centro-esquerda, acho que as pessoas têm bom senso em não aceitar de pronto uma imposição de uma ideologia destas.

Vejo que há uma radicalização do discurso contra o governo que se apropria da moral para tal de uma forma que parece que ninguém será salvo a não ser aqueles que gritam. Eu acho que às vezes se criam monstros de tal envergadura que no final se pode justificar ao Senhor o bom não, mas o ótimo combate.

O meu dilema e o meu desconforto existencial até, no final, reside no fato de que eu tenho uma visão de mundo que propaga que o mundo está melhor, apesar das barbáries existentes ainda; vejo homilias de sacerdotes sempre propagando um mundo ruim, batendo na tecla de que tudo está podre. Será?

Neste caso, por exemplo, fica um ranço da disputa eleitoral, concretizado numa paranóia anti-comunista, chamada atualmente de anti-marxismo cultural, haja vista que: (1) o Comunismo deu errado e todos sabemos; (2) que os Estados onde o bem-estar social se implantou, vide países nórdicos, têm população atéia alta.

Ficam algumas questões na minha cabeça:
(1) estou condenado ao inferno por ser uma pessoa tolerante?
(2) Por ter apreço a políticas sociais, por acreditar que houve injustiças históricas que tiveram uma reação no mundo atual, mesmo que exageradas, sou um comunista-ateu? Este maniqueísmo não está prejudicando mais?
(3) Por ter votado em X ou Y, por não ter gritado o nome Família numa câmara municipal, sou a favor dos homosexuais, mesmo eu tendo uma família criada na fé?

Paz e Bem!

Marllus.