sexta-feira, 27 de setembro de 2013

                                          PARA A FAMÍLIA FONTELES

Tias e tios, primas e primos:

20 de setembro, lua plena em Brasília, natureza límpida e serena, nasce Artur, filho de Martim e Fernanda, meu sexto neto.
Experimento a paz. São quase 67 anos percorridos, e é tão bom contemplar filhas e filho – Flávia, Fernanda e Gabriel -, traçando e construindo seu próprio caminho; a filha, estrela Maria Clara, anjo tão gentil de Deus, e os filhos, como ela, das filhas, que são Rafael, André, Lucas, Heitor e Artur, e se sentir avô.
Todo esse ciclo incessante, surpreendente, de alegrias e dores, de superações e cansaços, de crescimento e tropeço, só é possível porque há Ângela, amada e companheira, eis porque geramos, e acolhemos, e dialogamos e perseveramos.
Todo esse ciclo incessante, surpreendente, só foi possível porque antes aconteceu Geraldo e Maria, que também me geraram, me acolheram, comigo dialogaram e perseveraram comigo.
Eis porque nos meus momentos de solidão, angústia, medo, na verdade eu nunca estive só, a angústia não me dominou e o medo jamais de mim se apossou.
Isso tudo é família.
Confesso que meu coração se entristece – nuvens carregadamente cinzentas – quando o mundo quer obscurecer esse movimento tão bonito das gerações, acenando – porque, na verdade, a proposta mundana esvai-se num aceno – com opções idolátricas do poder pelo poder, do possuir pelo possuir, do prazer pelo prazer.
Nuvens, por mais carregadamente cinzentas que estejam, são sempre passageiras.
O firmamento, justo porque é firmamento, não passa nunca. Eu também o chamo de céu porque, olhando para ele, saio de minhas prisões materiais e intelectuais e, sem abandoná-las, porque me são necessárias, elevo-as espiritualmente e, assim, sou livre para me doar: a dimensão mais larga de ser família.
Minhas tias e meus tios, presentes de meu pai Geraldo Fonteles; minhas primas e meus primos, tantas e tantos nas gerações dos Fonteles, agora eu lhes faço um único e simples pedido: olhem-se uns aos outros e se abracem porque, assim, e por um instante, eu estou, aqui e agora, com vocês, para estarmos sempre.
                   
                                            Paz e Bem,

                                                        Claudio Fonteles.


sábado, 14 de setembro de 2013

TEMPOS FAVORÁVEIS

                                                           

Em plena adolescência, tempo caracterizado por ser tempo de mudanças, pois a criança, que se é em dependência total dos pais, passa a indicar, e mesmo assumir, gestos, ações e comportamentos próprios, sinais evidentes de salutar independência à formação da mulher e do homem, que se espera, mas ainda tão necessitada de diálogo e de afeto, jamais de “jogos de guerra”. Em tempo assim tão favorável, menino-jovem de 13 anos assassina os pais, avó e tia, e também extingue-se em suicídio.
Em pleno vigor democrático, tantas e tantos de sucessivas gerações vão às ruas e expressam em movimentação espontânea e sincera o inconformismo ante o estado de coisas a caracterizar a república brasileira como dissociada da vontade popular porque corrupta, com os poderes alicerçados na barganha; no perpetuar-se, a qualquer preço, no governar em escancarado jogo de interesses escusos, expulsas que estão do convívio cidadão a ética e a justiça. Em tempo assim tão favorável, o que se tem hoje são pequenos bandos, aqui e acolá, encapuzados e desvairados na correria e rastro alucinados do destruir, por destruir, quem sabe assim a chamar atenção da voz de governo que, quando se fez ouvir, o fez por forma tíbia, genérica e desperdiçou possibilidades significativas no quadro da democracia participativa.
Em pleno debate jurídico, compromisso de quem se fez julgador para com simplicidade, objetividade e concreto serviço ao bem comum, pela definição e afirmação de valores, que diuturna e paulatinamente dão forma e vida à sociedade humanista, que respeita a divergência e com ela habita, pacificamente; que acolhe, e se empenha para que a exclusão social não mais aconteça; que aos olhos da lei e das decisões judiciais todas e todos tenham tratamento igual, sem distinção de classes e opções políticas. Em tempo assim tão favorável, caprichos e vaidades perpetuam-se em decisões longas, fastidiosas e prolixas tão distantes da compreensão do significado do ato de decidir não como ato de egocêntrica imposição, mas de ensinar a conviver.
Tempos, assim, tão favoráveis, por favor, não deixemos que escoem por entre nossos dedos.

Tempos, assim, tão favoráveis, pedem-nos conversão de rumos a partir de mudanças reais em nossas atitudes e em nosso viver, não importando o quanto já tenhamos vivido. Afinal, somos independentes e, por isso, o tempo não nos é dado para nos aprisionar, mas para descobrir, sempre, o que, verdadeiramente, podemos ser.