domingo, 5 de maio de 2013

Mais cuidar e menos gerir


             O noticiário vira e mexe, e a cada fato que ele trata de espetacularizar, instiga o nosso componente emocional a ponto de nos deixarmos conduzir exclusivamente por ele – seja pelo noticiário, seja pelo emocional, dá no mesmo – arrastando-nos a soluções simplistas, superficiais, que menosprezam a dignidade da pessoa.
Refiro-me a duas situações, assim tratadas: a menoridade penal e a internação compulsória de dependentes da bebida ou da droga.
Políticos sagazes, e na proximidade do calendário eleitoral, bradam, ora pela redução da maioridade, ora pelo aumento das sanções aos menores infratores.
Soluções de consumo fácil, funcionalistas, mas que estão a esconder a inoperância da gestão centrada em si mesma – a gestão pela gestão -, que abdica de por em prática os valores humanistas da acolhida, do envolver-se com tantas e tantos que estão à margem do usufruir os bens mais elementares do correto viver.
Com efeito, reduzir a idade para que adolescentes sejam criminalizados, ou que padeçam mais tempo nos depósitos em que são enjaulados, é demagogia barata, para encobrir, repito, “a inoperância da gestão centrada em si mesma”.
Por que os governos, sejam eles municipais, estaduais e federal, não priorizam a educação?
Por que os governos, sejam eles municipais, estaduais e federal, não priorizam a formação da família estável?
Priorizar a educação, dentre possíveis perspectivas, é, concretamente:
- garantir que o professor, em regime de oito ( 8 ) horas diárias, dedique-se, totalmente, a uma e única escola, porque, assim, continuadamente, aperfeiçoa-se e, assim, continuadamente, não é mero e burocrático repassador de surrados esquemas – gestor -, mas formador de cidadania ativa para os seus alunos, pelo conhecimento e dedicação empenhada com alegria e satisfação. É ser pastor: o que cuida, o que está atento, o que promove o desenvolvimento integral das aptidões válidas e úteis à formação pessoal e comunitária das crianças, jovens e adultos que lhe são confiados.
Priorizar a família estável, dentre possíveis perspectivas, é:
- garantir o mesmíssimo reconhecimento tanto à mulher, quanto ao homem, em qualquer plano em que se situem – conjugal, educacional, laboral, econômico, social, esportivo – de modo a que se constitua, solidamente, relacionamento de inestimável companheirismo, embasado na entrega, sem subterfúgios ou máscaras, de um para com o outro – não há um, sem o outro – do que naturalmente decorre a filiação, natural ou adotiva, compondo-se vínculo íntimo e profundo de amor – a conjugalidade, a maternidade, a paternidade e a filiação – vínculo esse que, por certo, dissipa a criminalidade juvenil, e mesmo a adulta.
Vivenciadas essas realidades – prioridade à educação e prioridade à família estável – por certo as medidas, ditas salvadoras, perdem todo o sentido.
Quanto à internação compulsória dos dependentes da bebida, ou da droga, tem-se, mais uma vez, o rosto insensível do gestor.
Que sejam todos recolhidos, pela polícia, em camburões; que sejam todos submetidos a tratamento de exclusiva desintoxicação, é o que se ouve, e vê.
Tal metodologia, por óbvio, trata as pessoas, em tais situações, como marginais; massa sem forma, nem figura, mera massa manobrada na perspectiva de resultado estatístico, quem sabe para escusos propósitos de obtenção de verbas conveniadas e, de novo, fins eleitoreiros.
Todas e todos estejam no grau em que se encontrem da capacidade de autodeterminarem-se, hão de ser conduzidos para que se sintam diante de opção de mudança de vida, que lhes é oferecida; hão de ser acolhidos, fraternalmente; tratados na sua dimensão integral, pessoal e própria, o que não se concilia com métodos de eliminação da vontade individual, o que não se concilia com a adoção de tratamento exclusivamente médico, mas abra-se espaço para a descoberta, ou a redescoberta, do componente espiritual em seu ser, sem qualquer proselitismo religioso.
O mal de nossos dias está, ironicamente, na solidão coletiva do que gere.
O bem possível está, certamente, na doação comunitária do que cuida.  

         

2 comentários:

RONALDO ANDRADE disse...

Bom dia Professor!!!!!

Tive a maravilhosa oportunidade de ser seu aluno no Curso Superior de Teologia e, foi lá, através de vossa didática e pedagogia, que absorvi a importância de uma catequese social e de que a política não é algo fétido e composto unicamente de carniceiros ávidos do “deus dos deuses”: o erário (o que alias é dinheiro nosso), neste sentido, sou profundamente grato, por sua disponibilidade em trabalhar por tal conscientização!!!!!!

Quanto ao post: Sou Policial e, quando entrei na corporação no ano de 1994 comecei a observar que nossa juventude “rebelde”, amparada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual, todas as vezes que “apreendia” um menor e o encaminhava a (DCA), sempre voltava vociferando contra tal estatuto, pois muitas vezes o menor “ingênuo”, saia antes de mim da referida DP e eu ficava preenchendo meu BO, contudo com o passar do tempo, comecei a não simplesmente levar tais menores a DCA, mas neste deslocamento comecei a conversar com eles, descobri coisas incríveis: todos, eu disse todos vieram de famílias desestruturadas, onde o Pai estava preso e a mãe se desdobrava em longa jornada de serviço e que, acabava, com a distância, perdendo o controle dos filhos que viviam por si só, com isto vi que o problema nao estava somente no ECA. Hoje trabalho com o Policiamento Comunitário e, desenvolvo alguns projetos relacionados a tal público e sei, como operador de segurança pública, que alterar a menoridade penal, por si só não resolverá o problema, pois punição por punição não ressocializa, mas simplesmente isola (um acalanto para sociedade e para Estado: o Leviatã de Hobbes, que extirpa, pelo menos momentaneamente o problema), ainda mais em um sistema prisional ineficiente, desestruturado, superlotado, do qual a grande maioria depois de cumprir suas penas acabam reincidindo e voltando.

Quanto a internação compulsória de usuários de drogas, me deixa perplexo a simplória atitude de nossos gestores público, atitude esta que é muito próxima daquela utilizada como argumento para a alteração da menoridade penal: simplesmente excluir tais “marginais” dos seio da sociedade, pois esta tem, segundo os “especialistas” , o direito de “viver em paz”. Ouve-se dizer que o problema do consumo de entorpecente é caso para a polícia, para saúde pública, de assistência social, mas nunca dizem que uma questão de educação, investem-se demasiadamente em repressão em detrimento da prevenção, esqueceram que o uso de droga extrapola o poder de decisão de um viciado de usar ou não usar o entorpecente, mas não dá ao Estado o poder de tirar a liberdade de ir e vir de um ser humano, sobretudo porque se analisarmos de forma fria, o Brasil somente começou a se preocupar de forma efetiva com a questão do grande número de usuários de drogas somente em 1998 após pressões internacionais (Nações Unidas), onde se criou o Sistema Nacional Antidrogas.

Quanto a questão da Educação: Meu caro Professor, conhecimento é poder, Povo instruído é povo forte, Povo instruído busca seus direitos, povo instruído “enchem o saco” do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, povo instruído não se deixam levar como massa de manobra a bel prazer de poderosos.

Em pleno Século XXI é triste constatar que ainda existem senhores feudais e muitos não são Vassalos, mas continuam como mansos servis!!!!!!!!

Um grande Abraço!!!!!
Obrigado pelo seu “entusiasmo”.
Sem sobra de dúvidas um Humanista Cristão!!!!!!!!!!
Em Cristo!!!!!!
Ronaldo Andrade.










Claudio Fonteles disse...

Estimado Ronaldo:
Muito agradecido pelo apoio. Suas palavras, lúcidas, apresentam servidor público que não se burocratiza, mas dotado de mística, a marca dos seguidores do Deus-Amor, vai além do mero cumprimento do dever, para se envolver significativamente no desempenho funcional. Paz e Bem, Claudio.