Rio de Janeiro, bairro da Tijuca, 6 anos de idade e a voz do meu avô, Domingos Joaquim de Azevedo Lemos, português firme e discreto: “Ó menino, vamos a São Januário a vibrar com o Vasco da Gama.”
Lá ia eu, todo feliz, e São Januário atmosfera de puro encanto. Até hoje, neste instante em que escrevo, sensação de encanto do gramado, da arquibancada, do foguetório, da torcida, do grito e dos pulos de gol, tantas e tantas vezes vivido e repetido.
Ser vascaíno é ser vibração e empenho.
Vibração e empenho que encaram e se opõem à discriminação racial, e de classe.
Quebrar tabus e ser campeão com time de irmãos negros e operários.
Vibração e empenho que enaltecem a pessoa do atleta, o protagonista maior do clube.
Quebrar tabus e eleger Presidente do Vasco da Gama, Roberto Dinamite ídolo maior do futebol.
Vibração e empenho que nos momentos difíceis que nos conduziram à mentalidade truculenta e arbitrária, ao descalabro administrativo-financeiro, ao comprometimento do que é, verdadeiramente, ser agremiação esportiva, não nos permitiu sucumbir, fez-nos acreditar, perseverar, porque o “Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor” e, por isso, “o sentimento não pode parar”, nunca.
Brasília, bairro do Lago Norte, 64 anos de idade, e a voz do meu avô, Domingos Joaquim de Azevedo Lemos, português firme e discreto, não mais audível, mas agora no mais íntimo espaço do meu coração: “Ó menino, vamos a São Januário a vibrar com o Vasco da Gama.”
Eu vou, sim, meu vovô. E um dia, por certo, e por toda a eternidade, nós dois e multidão incalculável de vascaínas e vascaínos, aí de cima, faremos parte da torcida: “Vascaínos no Paraíso, sempre”.