Não me atrevo a falar de João Paulo II. É missão muito além para o que estou capacitado
Falo, sim, do seu significado para a minha vida de cristão.
Colho de João Paulo II dois ensinamentos, que os tenho como guias perenes.
O primeiro, suas próprias palavras, síntese verdadeira de todo o seu agir pontifício, ditas quando justamente inaugurava, a partir de Roma, sua missão: “não tenham medo”.
Verdadeiramente, o medo nos aprisiona em nós mesmos; fecha-nos num circuito introspectivo da falsa segurança.
João Paulo II pôs-se a caminho, peregrinou incessantemente, mostrou-se ao mundo, a todos nós, como aquele que acolhe e ensina.
Jesus é o acolhimento e o ensinamento.
Isso está tão claro no chamado “discurso de despedida” de Jesus para seus apóstolos, como S. João narra-nos em seu Evangelho , no capítulo 16, versículo 33:
“Eu vos disse estas coisas para que em mim, tenhais a paz. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo”.
( grifei ).
Aí está: o ensinamento de Jesus é para que o conheçamos, intimamente, pronto que está, sempre, a nos acolher, e assim vivenciamos a paz: “... para que em mim, tenhais a paz”.
Tudo porque o mundo, ou no mundo, não é, ou não está, a solução definitiva do nosso existir. Portanto, não há o que temer quando não centramos nossa vida, no mundo.
O “tende coragem! Eu venci o mundo”, ou para dizermos com João Paulo II – “não tenham medo” – significa que se damos total adesão e, então, agimos na conformidade do Evangelho de Jesus, força alguma material pode nos deter e o nosso testemunho é invencível, como o é o de João Paulo II para todos nós católicos.
O segundo ensinamento de João Paulo II atinge em cheio os tempos atuais como reflexo da modernidade iluminista, tanto que hoje já se fala da pós-modernidade. Todavia, tanto a modernidade, como a pós-modernidade, ambas apresentam fundamento comum: o absoluto da razão humana, que tudo pode; é ilimitada.
Isso deita raízes no ensinamento de René Descartes ao enunciar o seu célebre: “cogito, ergo sum” ( = penso, logo existo ).
Portanto, a existência atrela-se, faz-se subserviente da razão, do pensar da mulher e do homem. Deus não conta, não é necessário porque à mulher e ao homem basta a sua produção racional.
João Paulo II, baseando-se em São Tomás de Aquino, ensina-nos o contrário: “porque existo, penso”.
E o existir, mesmo por sua provisoriedade e “aflições”, conduz-nos a Deus.
Sim, o deixar-se atrair por Deus, em Jesus Cristo , sob o sopro permanente do Espírito Santo, faz-nos vencer o mundo, ou seja, nele estar, nele atuar, mas além dele ir, para poder modificá-lo.
Ou como magnificamente diz João Paulo II:
“Com efeito, o fato de querer sufocar a voz de Deus é bastante programado: muitos fazem de tudo para que não se ouça a Sua voz, e seja ouvida somente a voz do homem, que não tem nada a oferecer além da realidade terrena. E por vezes essa oferta traz consigo a destruição em proporções cósmicas. Não é essa a história trágica do nosso século?
( leia-se: Messori, Vitório – “Cruzando o limiar da esperança” – editora Francisco Alves, pag. 131 ).