terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Paz

          Ainda vivíamos, nós brasileiras e brasileiros, os tempos obscuros e difíceis do autoritarismo, ainda que sinais perceptíveis indicassem seus estertores. Um desses sinais era excelente - o que é raro - programa de televisão, chamado "Abertura", no qual temas de elevado valor eram discutidos por pessoas de, igualmente, elevado valor.

          Assistia eu uma noite, debate sobre a paz. Lembro-me bem que Darcy Ribeiro, provocativo, dirigiu-se a Alceu de Amoroso Lima, indagando-lhe, de plano: "Alceu, o que é a paz?". Sereno, o "Tristão de Ataíde", alcunha que se dera Alceu de Amoroso Lima, eminente pensador, respondeu-lhe, firme e suavemente: "Darcy, a paz é o equilíbrio no movimento".

          Resposta em frase simples - "a paz é o equilíbrio no movimento " -, mas de profunda sabedoria, guia para nossas vidas.

          Com efeito, a paz não é e, portanto, não se experimenta, assumindo-se postura de braços cruzados, de alheiamento, de afastamento, de fuga do mundo e das realidades que o constituem, ou neles estão: a paz não é estática ausência.

         A paz é dinâmica - movimento, ensina-nos Alceu - mas que transcende o próprio movimento porque, alcançando o equilíbrio, nos equilibra, como pessoa, nos nossos três componentes - o espiritual, o racional e o material -, e como ser vivente em nossa relação com o mundo.

         O Papa Bento XVI, em sua Mensagem para este 1º de janeiro de 2011, que a Igreja sempre celebra como o Dia Mundial da Paz, o dia de abertura do calendário anual, com tanta propriedade diz, na conclusão da Mensagem:
"A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projeto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou econômico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações. Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejarem tornar-se obreiros da paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquista de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade".

          Com efeito, o fechamento da mulher e do homem sobre si mesmos, ilhados no solitário egocentrismo, impele-nos ao delírio do poder, do prazer e do possuir. Inebriamo-nos pelo ter, em demasia e sem fim. Enganamo-nos, com artifícios e máscaras, no existir pelo existir, e nos consideramos senhoras e senhores da vida e da morte.

          Eis porém que leio, em outro tópico da Mensagem, a que acima aludi, valioso ensinamento:
"Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar respostas para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa."

          "A paz é o equilíbrio no movimento" e o equilíbrio não se concilia no curvar-se aos modismos fugazes, porque o equilíbrio não se relativiza. O equilíbrio advem-nos da adesão a verdades objetivamente presentes em todos nós, mulheres e homens, e em todos os tempos.

          Viver em paz é descobrí-las - as verdades objetivamente presentes em todos nós, mulheres e homens, e em todos os tempos - na contingência histórica, para realizá-las em nossa história, porque, e aqui encerro estas meditações escritas com mais outra preciosa orientação do Papa Bento XVI, em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz:
"Uma liberdade sem relação não é liberdade perfeita. Também a liberdade religiosa não se esgota na dimensão individual, mas realiza-se na própria comunidade e na sociedade, coerentemente com o ser relacional da pessoa e com a natureza pública da religião. O relacionamento é um componente decisivo da liberdade religiosa que impele as comunidades dos crentes a praticarem a solidariedade em prol do bem comum. Cada pessoa permanece única e irrepetível e, ao mesmo tempo, completa-se e realiza-se plenamente nesta dimensão comunitária.

                                                                                    Paz e Bem!
 



         
 
  
    

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ser Feliz

          Duas motivações impelem-me a dedicar breves linhas de reflexão ao tema posto em título.

          A primeira está na proposta de emenda constitucional do Senador Cristovam Buarque, apresentada nesses termos:
                    Art. 6º - "São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde,  a          alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."

          Na verdade, tenho que, como redigida, a proposta de alteração normativa tem por finalidade enfatizar o objetivo de norma-síntese de todos os direitos sociais que estão, topicamente, expressos nos vários incisos do art. 7º e, especificamente, nos capítulos II, seções de I a IV; III, seções I e II; e IV, seção VII, da Constituição federal.

          Norma-síntese que já se põe na atual redação do artigo 6º. A novidade, se novidade há, está em, expletivamente, dizer-se que os direitos sociais têm por escopo: a busca da felicidade.

          Por isso, a proposta tenho-a por procedente vez que, substancialmente, não desfaz, ou compromete, o adequado tratamento da matéria, exigido à afirmação e à proteção da dignidade da pessoa.

          Aliás, na medida em que preserva a proteção à maternidade como dado a caracterizar a busca da felicidade, por óbvio, o texto constitucional empenha-se, claramente, na defesa da vida do nascituro posto que a maternidade fica reconhecida a partir da concepção, quando certa e objetivamente faz-se, presente e real, na mulher o quadro gestacional, assim, e portanto, dotado de total proteção constitucional.

          A segunda me é motivada pela presença do Natal, em breves dias.

          A maravilha do Natal, a mim, está na encarnação da Palavra.

          O Deus-Amor não é solidão, até porque se faz em Trindade amorosa, que se expande. Por isso, a Palavra, que nasce no Natal, comunica, convida, ensina.

          Então, a felicidade, que não é estático estado, mas essencialmente contínua busca, porque não tem, na experiência mundana, ponto final; carregada de dinamismo a felicidade é abrir-se à Palavra, deixar-se, perseverantemente, por ela ser questionado, viver a integralidade do espírito e do corpo, porque bem proclama S. Paulo que: "em Deus somos, existimos e nos movemos" ( At. 17, 28 ).

          Que a Palavra nasça em nós, ou seja, Feliz Natal.

                                                             Paz e Bem!   
                       

domingo, 28 de novembro de 2010

Rio de Janeiro

                 Eu sou carioca, tijucano, vascaíno e salgueiro.

                 Desde sempre há, em mim, mais do que um sentimento, porque o sentimento é sempre resposta a estímulos fora de nós, traduzidos no cotidiano acontecer, há em mim o conhecer-se e reconhecer-se filho dessa terra malandra, que significa dar bom dia para todo o mundo; caminhar no ritmo vai e vem das ondas do mar, bater o papo sério-descontraído, de preferência no bar da esquina; deixar-se seduzir e seduzir tudo o que é verdadeiramente belo.

                 A desgraça de décadas de espúrio conluio entre o poder político e o poder bandido, a tal ponto tão íntimo que não mais se percebe um ou outro, porque ambos se fundiram no rosto perverso da corrupção em todos os sentidos, entristeceu o carioca, brutalizando-o no medo-pânico, ou no deboche da insensibilidade.

                 "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe".

                 Se essa frase compreende a transitoriedade de tudo o que diz respeito ao mundo material, ela significa, também, que tudo é possível de acontecer, porque o ser humano não é fruto do imobilismo predeterminado, mas possibilidade infinita desde que se abra, exista, no precioso ensinamento de Emmanuel Mounier:

                 "A pessoa é uma interioridade que tem necessidade de uma exterioridade. A palavra existir indica, pelo seu prefixo, que ser é expandir-se, exprimir-se." ( O personalismo - pg. 66 ).

                 O Rio de Janeiro existe!

                 Existe na cidadania que, feita governo, rompe o conluio fétido, e com vontade e ação da boa política comanda a necessária reação ao desonesto conformismo do "estando assim as coisas, que assim fiquem, e que assim delas eu me locuplete."

                 Existe na cidadania que, feita servidores públicos da segurança pública, policiais e militares, realiza, concretamente, o ideal de honestidade e amor à causa pública, nobremente valorizando o significado das instituições e serviços a que pertencem, e se dedicam.

                 Existe na cidadania que, feita crianças, jovens, adultos, não os faz passivos espectadores, mas estimula-os a externar apoio real e a envolverem-se, corajosamente, na construção desse novo tempo, que se quer permanente e, por tal razão, há de exigir paciência, persistência e firmeza.

                 O Rio de Janeiro existe; eu existo nele; nós não existimos sem ele!
                 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aprendizado

         Se não nos deixamos tomar pela irracionalidade dos comportamentos extremados – e aqui já apresento claro aprendizado – em tudo o que nos acontece sempre algo de bom existe.

         O processo eleitoral, para esse momento, está encerrado.

         De pronto, saudemos a presença do processo eleitoral em si como instrumento eficaz na perene construção da Democracia.

         Ser democrata é abrir-se ao diálogo, por-se em atitude de escuta e ponderação, saber que não há ponto final na construção da sociedade humana porque o incessante movimento das gerações, como o da própria vida, é contínuo descobrir-se.

         Eis porque a Democracia é o melhor de todos os regimes políticos: ela não tem a pretensão de concluir-se, antes é eterno afazer da mulher e do homem.

         Eu disse, linhas atrás, que “o processo eleitoral em si é instrumento eficaz na perene construção da Democracia”. Repito: é instrumento, portanto não é o bastante.

O grande desafio, a nós, brasileiras e brasileiros, é darmos o passo seguinte, fundamental, qual seja: como povo consciente avançarmos da mera Democracia representativa – expressão eloqüente no ato de votar – para a Democracia participativa na qual:

a)      Se elegemos, não abdicamos do controle efetivo, concreto, diuturno dos atos dos eleitos, mobilizando-nos a crítica rotineira, positiva ou negativa, do que estão a fazer, ou como estão a comportar-se;
b)      Se elegemos, não abdicamos do nosso protagonismo e, portanto, e ativamente, nos envolvemos, decidida e decisivamente, na provocação – expressão maior da Democracia participativa – de leis de iniciativa popular e de referendo;
c)      Se elegemos, não abdicamos de fazê-lo como expressão clara de posicionamento meditado, consciente, analítico, na conformidade do apresentar os valores políticos pelos quais vivemos e nos pautamos;

Com efeito, como magnificamente lê-se no Documento da CNBB, nº 91, intitulado: “Por uma reforma do Estado com participação democrática”:

“A ampliação da democracia formal parte das necessidades dos homens e mulheres que almejam ser mais que objeto.A construção da Democracia Participativa parte do pressuposto de que é necessário ultrapassar o individualismo e tomar o rumo da solidariedade que deve, pois, apelar à consciência dos cidadãos, respeitando sua autonomia e chamando-os a contribuir para a construção do bem comum.” ( nº 48 – pg. 28 ).

Quanto à mass-midia, a imprensa escrita e televisada, deve, como todas as instituições e serviços que compõem a Democracia, cultivar a equilibrada recepção da análise crítica, que sobre seu conduzir-se se faça, até mesmo porque na verdadeira Democracia não há pessoa, instituição ou serviço indene, ou que se ponha acima, de qualquer juízo crítico, pena cairmos no mais obscuro autoritarismo.

Lamentável, no processo eleitoral que estamos a considerar, o comportamento da chamada grande imprensa na difusão de “escândalos” que, por certo, dentro em breves dias não mais atiçarão as demandas noticiosas, que engendra, e mais lamentável, ainda, o sensacionalismo destituído de qualquer compromisso com a verdade. Aqui, exemplifico com duas bombásticas manchetes dos jornais Correio Braziliense e O Globo, ambas produzidas às vésperas da votação no 2º turno, na sexta-feira 29 de outubro, a dizer, respectivamente: “Até o Papa dá palpite na eleição brasileira” e “Pressão de bispos dá certo e Papa interfere na eleição”.

O manchetismo irresponsável é patente.

Tenho em mãos a íntegra do pronunciamento do Papa Bento XVI aos bispos do Regional Nordeste V, motivado pela visita ad limina apostolorum.

O pronunciamento, que perfaz duas ( 2 ) páginas, centra-se, como mesmo diz o Papa:

“...hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina o homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.”

         Destaca que “o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos”, reservando a bispos e clero posicionamento mediato, salvo “quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas ( cf GS, 76 ).”

         E, fundamentando, disse o Papa:

“Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural ( cf. Christisfideles laici, 38 ). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases ( cf. Evangelium vitae, 74 ). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo ( ibidem, 82 ).”

         Finalizando seu raciocínio, no tópico, o Papa Bento XVI indica, cristalinamente, a fonte de onde promana o posicionamento sócio-político do cristão:

“Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é necessária – como vos disse em Aparecida – uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o Compêndio da Doutrina Social da Igreja ( Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3 ). Isto significa também que em determinadas ocasiões os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum ( cf. GS, 75 ).

          Como de todas essas palavras do Papa Bento XVI concluir-se que S. Santidade tenha adotado posição político-partidária ao ensejo da definição do quadro eleitoral em nosso País?

         Eis o exemplo clássico de manipulação da notícia que o jornalismo, autenticamente democrático, por certo repudia.

         Aí está, e para reiterar, finalizando: o tempo que se abre é de aprendizado.

         Que possamos todos, sem exceção, pessoas, instituições, serviços, na Democracia, voltarmo-nos para o aprendizado, e aqui dirigindo-me a meus irmãos leigos, religiosos, padres e bispos da fé católica, e também a meus irmãos de outras crenças, ou de crença alguma, por quê não aceitarmos o convite do Papa Bento XVI a que conheçamos, para concordar ou discordar, o magistério social da Igreja, conhecendo o Compêndio de sua Doutrina Social?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O papel da Igreja

A grande mídia, tanto escrita quanto televisada, tem-se proposto, e enfatizado, reduzir drasticamente ao espaço particular qualquer manifestação da Igreja, enquanto instituição, desautorizando-a e, portanto, censurando-a a cada vez que, publicamente, posiciona-se sobre assuntos pertinentes à convivência humana em sociedade.
Inexato é esse posicionamento midiático.
O Concílio Vaticano II espelha o avanço da eclesiologia em direção ao perene diálogo da Igreja com o mundo.
Sintomáticas as palavras que concluem o Proêmio da constituição pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), documento elaborado justamente a caracterizar a relação Igreja-Mundo:


"Eis a razão por que o sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando que nele está depositado um germe divino, oferece ao gênero humano a singela cooperação da Igreja, a fim de instaurar a fraternidade universal que a esta vocação corresponde. Nenhuma ambição terrestre move a Igreja, mas unicamente este objetivo: continuar, sob a direção do Espírito Paráclito, a obra de Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, não para julgar, mas para salvar; não para ser servido, mas para servir. ( Gaudium et Spes nº 3 )."


A esse propósito, o Papa Bento XVI, no discurso de abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano e do Caribe - CELAM -, proferido em Aparecida, e recordando o ensinamento do Concílio Vaticano II, foi textual:


"No esforço para conhecer a mensagem de Cristo e fazê-la guia da própria vida, deve-se recordar que a evangelização foi sempre unida à promoção humana e à autêntica liberdade cristã. Amor a Deus e amor ao próximo se fundem entre si: no mais humilde encontramos Jesus e em Jesus encontramos Deus ( Deus caritas est - nº 15 ). Assim, será também necessária uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o Compêndio da Doutrina Social da Igreja. A vida cristã não se expressa somente nas virtudes pessoais, mas também nas virtudes sociais e políticas."

Lamento, profundamente, que no próprio âmbito da Igreja, tantas e tantos, leigos, religiosos, sacerdotes, bispos desconheçam os preciosos ensinamentos que o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, forte no Evangelho de Jesus Cristo, - fonte primacial - apresenta, ordenada e coerentemente, a que o testemunho cristão concretamente favoreça "o instaurar a fraternidade universal" ( Gaudium et Spes nº 3 ) no mundo, dele progressivamente eliminando os males do arbítrio, da insensibilidade, do egocentrismo, da corrupção, da visão redutora da própria pessoa humana que, integralmente, é: espírito, razão e corpo.
É, sim, grandemente salutar que a Igreja, lado a lado com outras instituições da sociedade civil, promova programas sociais de inclusão e acolhida social e, aqui, como não deixar de celebrar a Pastoral da Criança e a missionária Zilda Arns; como não deixar de celebrar a irmã religiosa Dorothy Mae Stang e suas demais irmãs da congregação Notre Dame de Namur no agir pelo assentamento e garantia da terra para quem dela, efetivamente, necessita porque nela tem seu único sustento, e com ela, por certo, não especula; como não deixar de celebrar, a partir da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, tantos quantos eficazmente envolveram-se na elaboração e aprovação da Lei da Ficha Limpa, fundamental à correção dos graves desvios da prática político-partidária; como não deixar de celebrar o empenho anônimo e plural de irmãs e irmãos na defesa da vida desde a sua concepção até a morte natural e, assim, envolverem-se na construção diuturna da sociedade fraterna e justa como a nossa própria Constituição Federal nos impele a realizar.
Encerro com palavras plenas de sentido de Mario de França Miranda, lidas e meditadas em seu livro: "Igreja e sociedade":

"Hoje já se reconhece que as religiões têm algo a oferecer à sociedade civil. São elas que denunciam a marginalização a que estão condenados os mais pobres, bem como as injustiças de políticas econômicas. São elas que oferecem uma esperança que sustenta e mobiliza os mais fracos. São elas que, livres de um dogmatismo doutrinário e impositivo, oferecem motivações e intuições substantivas ( e não apenas funcionais ) para as questões sujeitas ao debate público. São elas que, numa sociedade neoliberal e prisioneira de uma racionalidade funciomal em busca de resultados, desmascaram a frieza burocrática e tecnocrática apontando os efeitos devastadores de certas decisões. São elas que, para além das macrossoluções milagrosas, apontam para a responsabilidde de cada um e para a imprescindível rejeição de um individualismo cômodo, sem as quais a ética na vida pública ou o problema ecológico não serão solucionados. Aqui a sabedoria religiosa talvez possa ser mais eficaz do que muitos discursos dos tecnocratas." ( pg. 139-140 ).

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Resgate

  1.           Todos, na perspectiva de cada um, nos comovemos ( = mover-se com ) com o episódio que culminou na salvação da vida, de 33 mineiros chilenos, assim podendo retornar ao convívio de familiares, amigos, e da própria sociedade.
  2.           O envolvimento comunitário expresso em orações dos que partilham diferentes credos religiosos; igualmente expresso na solidariedade real das vozes e escritos de familiares e amigos, que não se calaram; e também no trabalho conjunto de companheiros mineiros e representantes do governo, tudo testemunha o considerar "o outro" não como tu, ou seja, alguém fora de mim, mas como "o outro eu", ou seja, alguém insitamente em mim, e por quem me envolvo.
  3.           Olhando para meu País, o Brasil, e minha gente brasileira, eu constato, para minha alegria, a ascensão econômica de milhões de brasileiros, ascensão essa que os elevou de patamar de consumo: é real que da classe E tantos migraram para a classe D; e da classe D, tantos migraram para a classe C.
  4.           Antes, vale dizer, na compreensão da proposta neoliberal, lugar não há para tão contundente resultado. A preocupação reside na permanência da imobilidade social em diretriz de manutanção do "status quo" a privilegiar os estamentos mais aquinhoados da sociedade, e neles me incluo.
  5.           Fazendo a análise no âmbito educacional, se muito precisa ser feito, mormente a garantir efetivo papel de relevo do professor, a compatibilizá-lo com digna e exclusiva dedicação no seu mister, mas também alegro-me no reconhecer o incremento dado ao ensino público, caracterizadamente o técnico - tantas escolas técnicas foram construídas a subsidiar e então enfrentar a carência em áreas populacionais do interior do Brasil - e o superior, aqui destaco o Prouni, que concretamente ensejou, e enseja, o acesso de tantos jovens, antes condenados à imobilidade e, certamente, ao subemprego ou ao desemprego, ao ensino universitário, propiciando-lhes dignidade pessoal, e familiar. A propósito, recordo-me de palavras de jovem, a dizer: "filha de mãe que não teve acesso à educação e à cultura, sem rendimento certo, e de pai biscateiro; estudando muito, apesar de tudo, hoje faço medicina e a mim e a meus pais darei vida nova."
  6.          Olhando para meu País, em tempo de vital eleição, pois é a que define quem, com sua equipe, o conduzirá, no próximo quadriênio, irresponsabilidade será abster-me de votar; irresponsabilidade será a negação do voto, deixando-o em branco; irresponsabilidade será dele desfazer-me, anulando-o.
  7.           Fundamental - e por isso a Democracia é o melhor dos regimes - que se faça a opção concreta e, no nosso caso, definir-se, no quadro posto pelo 2º turno, ou pelo avanço na trilha da social democracia, ou pelo retorno ao neoliberalismo.
  8.           Avanço na social democracia.
  9.           Voto em Dilma Roussef, ainda porque considero que todo o embate eleitoral, que vivamente protagonizou, a ela e a sua agremiação partidária indicam a necessidade clara de construção da sociedade brasileira não mais prioritariamente calcada em termos gerenciais de ganhos materiais ao povo mas, sem descurar desse aspecto, avançar para a formação da sociedade brasileira alicerçada em valores maiores expressos: no cuidado, dedicação e compromisso com o bem público; contínua promoção do bem comum; e, sobretudo, no empenho para que o desenvolvimento da pessoa humana seja integral e solidário, até porque, e como muito bem diz Emmanuel Mounier, eminente filósofo católico:  "O sentido da liberdade e o sentido da realidade exigem que toda tentativa se liberte de um qualquer a priori doutrinário; esteja positivamente pronta para tudo, até mesmo a mudar de direção para continuar fiel à realedade e ao seu espírito." ( O Personalismo - pg. 120 ).

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Eleições ( II )

  •             Deparo-me com editorial do jornal "O Globo", denominado "fundamentalismo nas eleições", quando saúda o candidato José Serra porque "agiu de maneira correta o ministro da Saúde José Serra quando, em 1998, contra a ação deste mesmo lobby ( grupos religiosos conservadores ) que se movimenta na campanha, emitiu nota técnica ao SUS para regular a curetagem em mulheres vítimas de estupro, como determina a lei." ( trecho do editorial ).
  •             À candidata Dilma Roussef diz que "resvala para o perigoso terreno da hipocrisia e, pior, deixa-se que com um condenável fundamentalismo religioso defina o tom do segundo turno" ( ainda trecho do mesmo editorial ) porque a ela, unicamente, atribui o recomeçar "a campanha com citações do nome de Deus e negação da tese da discriminação do aborto", para concluir: "Curvar-se a este fundamentalismo é trair o princípio da laicidade do Estado, uma conquista do Iluminismo, em um lance de esperteza eleitoreira."
  •             Ponho-me em total divergência.
  •             De plano, e de par com necessários temas pertinentes à educação, saúde, meio-ambiente, habitação, cultura, segurança, transporte e política externa, o tema família, no que se insere a temática do aborto, guarda a mesma dimensão dos outros citados, porque todos dizem respeito à formação e definição da sociedade brasileira, razão de ser do embate político democrático.
  •            A pergunta é: qual sociedade brasileira desejamos construir?
  •            A sociedade funcionalista, do descarte, da pragmática relação custo-benefício, do primado do individualismo exacerbado, do consumo desenfreado, ou a sociedade humanista, da acolhida, da solidariedade, em que a pessoa humana, seja na etapa de vida em que é - embrião, feto, bebê, criança, jovem, adulto, velho - sinta-se amplamente defendida.
  •            Aqui, valho-me de tão correta frase do filósofo Emmanuel Mounier, tão eloquentemente atual:
  •                               "... a grande tentação do século XX será, sem dúvida, a
  •                               ditadura dos tecnocratas, quer da direita, quer da esquer-
  •                               da, que esquecem o homem para só considerar a organi-
  •                               zação" ( O Personalismo - pg. 122 ).
  •            O aborto faz duas grandes vítimas: a mulher-mãe e o nascituro.
  •             "Nenhuma mulher quer abortar" é frase uníssona que ouço em todos os debates de que participei, e participo, seja o posicionamento da mulher, que a diz, contra, ou pró, aborto.
  •             Por quê, então, o Estado brasileiro demite-se e, encorajado e aplaudido pela "mídia iluminista", vai na linha oposta ao desejo da mulher, encorajando-a a abortar?
  •             Por quê cedem tantos, agora sim, às pressões dos poderosos lobbies farmacêuticos, hoje espetacularmente dedicados à manipulação da vida humana?
  •             Opto por viver, e desenvolver a sociedade brasileira, no sentido de que a mulher e a vida em seu ventre, ambas abandonadas, recebam do Estado brasileiro - e este igualmente estimule, incessantemente, o envolvimento de associações e grupos privados - toda a acolhida imprescindível à verdadeira, e não meramente retórica, promoção humana.
  •             Apresento iniciativa concreta, e dela podem servir-se quer quem esteja a postular a Presidência da República, outros cargos executivos, ou qualquer membro do Parlamento: se já temos presente, real e a produzir bons frutos, a lei Maria da Penha, que é protetora da mulher e seus filhos das agressões masculinas de coabitação, o que nos impede de discutir e votar a lei Maria do Abandono, igualmente protetora da mulher e do nascituro, para que a frase dita por todas as mulheres - "nenhuma mulher quer abortar" - nunca mais seja dita e aconteça, então, a vida em plenitude?
  •              É bastante provável que o fundamentalismo de mercado, expressão clara desse iluminismo, assim caolho, só nos faça ver a organização, jamais a pessoa.
  •              Para finalizar: O Estado laico não submete a pessoa à organização, mas, e porque expressão viva da democracia republicana, estimula e garante o livre convívio das pessoas, que o formam, sejam elas de tal, ou qual, confissão religiosa, ou não confessem credo algum.                               

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ELEIÇÕES

            Ensina o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no seu nº 168, que:

                 "A responsabilidade de perseguir o bem comum compete
                 não só às pessoas consideradas individualmente, mas
                 também ao Estado, pois que o bem comum é a razão
                 de ser da autoridade política." ( grifei ).

          Eis portanto: "o bem comum é a razão de ser da autoridade política."

          De plano, fique bem esclarecido que autoridade não significa aquele que manda, que impõe, mas aquele que está a serviço: estar, e não ser, político é estar a serviço do público.

          Muito distante estamos, no Brasil, desses ensinamentos.

          Todavia, isso não é razão para esmorecermos, cansarmos, desistirmos.

          Importa, sim, decidido agir diferente, fora dos padrões clássicos.

          Exponho algumas condutas e situações, presentes nessa primeira etapa eleitoral, que devem ser mudadas.

          Na fila para a votação, ouvi: "hoje cumpri com meu dever de cidadã/ão".

          Errado, erradíssimo!

          Cidadania, e seu exercício, não é dever, ou direito. É muito mais do que isso. Cidadania é expressão mesma do bem existir, como amar; constituir família; viver ideais de solidariedade; de paz; legar, às gerações seguintes a harmonia com a natureza e, portanto, ser cidadã/ão, é constantemente envolver-se, também, com assuntos e comportamentos pertinentes ao viver em sociedade.

          Como alerta, muito bem, a publicação "Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática", nº 91, dos Documentos da CNBB:

                                "Assim sendo, se fizermos da Democracia Representativa a única
                                forma de o povo exercer sua soberania, então ela é redutora do
                                seu ser político. Elege e vai para casa, já desnudado do seu 
                                ser político que foi outorgado a outrem." ( pg. 22, grifei ).

          Urge, sem dúvida, que se passe da democracia representativa, para a democracia participativa, a cidadania ativa, não mais passiva, guiada por compromisso ético que enseja o ultrapassar visão de exacerbado individualismo para a experiência da alteridade, na solidariedade.

           Por isso, censuras e óbices - e aqui já analiso outro fato presente nessas eleições - não podem ser lançados à chamada "Lei da Ficha Limpa".

           Advinda da constitucional iniciativa popular ( artigo 14, inciso III, da Constituição Federal ),que a diz, expressamente, instrumento da soberania popular, razão de ser da democracia, e calcada em relevante princípio constitucional, que rege a condução da administração pública verdadeiramente democrática - o princípio da moralidade administrativa ( artigo 37, caput ) - óbvio que não pode ser obstada em sua imediata aplicação, para o pleito eleitoral em curso, ao abrigo de leitura de outro texto constitucional, presente no artigo 16, mas que se constitui em norma de cunho meramente procedimental - estabelece prazo - sobre o processo eleitoral, situação que, por manifesto, não pode sobrepujar aqueloutras, substanciais, e não meramente procedimentais, repito, por dizerem com a essência mesma da democracia: a participação popular e o respeito ao princípio da moralidade administrativa.

          Passo a outra realidade: o poder da mídia. Aqui, tenho por sábio esse outro texto do Documento nº 91 da CNBB, já aqui citado:

               "Com o balizamento ético na comunicação, a mídia deve estar a serviço
                da verdade e do bem,usando a força do seu poder para fazer avançar o debate 
                indispensável e a consciência cidadã para a construção do espaço democrático
                que ajudará na superação da crise da civilização contemporânea ( pg. 49 )."

          Ora, a chamada grande mídia - e não se necessita de grande esforço comprobatório ao que digo - adotou parcialíssima cobertura, em eventos tópicos, a deles extrair consequências sistêmicas. Refiro-me às coberturas jornalísticas sobre a quebra de sigilo de dados fiscais no âmbito de unidades da receita federal, e negócios a envolver filho da Sra. Erenice Guerra, então chefe da Casa Civil da Presidência da República.

          Situação noticiada pela revista Carta Capital, a envolver a filha do candidato José Serra, no mesmo âmbito da defesa do sigilo das pessoas, não repercutiu na grande mídia.

          Cito essa situações - e deixo por bem claro que qualquer órgão de imprensa, por seu editorial, tem todo o direito de posicionar-se, por tal ou qual modo, clara, objetiva e expressamente, a marcar sua definição política - para assentar que o estar a serviço da verdade e do bem, certamente, requer conduta jornalística incessante no acompanhar, assiduamente, os fatos estampados, e não, como é corriqueiro no que se chama o manchetismo pelo manchetismo, torná-los de efêmera ocasião ao sabor do puro sensacionalismo.

          Imprensa verdadeiramente livre não pode prescindir do balizamento ético na informação, para que assim alcance o patamat condizente com a razão de ser da comunicação, que não está na informação pela informação, que pode resvalar para a deformação, mas na informação comprometida com a formação de valores inerentes à dignidade da pessoa humana e ao sadio convívio democrático.


                                                                                   Paz e Bem!
                         

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Em defesa da vida

         Muito importante é ter a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB -, por sua específica comissão, a Comissão Nacional da Pastoral Familiar, instituído a Semana Nacional da Vida, celebrada de 1 a 7 de outubro, a cada ano, e destacado o dia 8 de outubro como o Dia do Nascituro.

         Muito importante porque a nós católicos, e a todos os demais irmãos e irmãs de outras opções religiosas, e demais pessoas de boa vontade, ainda que não professem qualquer fé, o compromisso com a vida desde a fecundação até o seu termo final é a expressão mais nítida da existência mesma.

         Como existir, sem viver?

         Para nós, cristãos, é tornar real e eficaz o ensinamento de Jesus, o Deus-Amor, que por ser Amor não é solidão, mas perene comunicação, claramente expresso em S. João, quando em boa nova diz:

                                   “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham
                                   em abundância.” ( Jo. 10, 10 ).

        A adesão a Jesus compromete-nos com a vida, e a vida em abundância, ou seja, sem que seja considerada, em equivocada compreensão redutiva, em tal ou qual momento das etapas do existir, mas do existir, por inteiro, desde o ato de fecundar, que significa receber o código genético, único e irrepetível, como ser humano e, no ventre materno, autodesenvolver-se, até a morte natural.

         A vida em abundância conduz-nos, também, à experiência cotidiana da partilha.

         Viver em abundância jamais significa o acúmulo solitário e egoísta de bens, tão à moda da sociedade secularizada em que vivemos, mas a possibilidade real de que a todos é o oferecido o banquete da vida, e em todas as suas dimensões: material e espiritual.

         À leitora e ao leitor, ofereço poema, que escrevi, por ocasião de momento em minha vida em que lutei pela vida de todos nós, desde quando embriões.

         Eis o poema:




                                       O  QUE  TODOS  SOMOS


                                                            I

                                               Ainda tão imperceptível
                                               por todos,
                                               mesmo por quem o acolhe,
                                               todavia é.

                                                            II

                                               Desde a fecundação,
                                               expressão própria da união
                                               livre ou constrangida
                                               de quem inexoravelmente pai e mãe,
                                               todavia traça seu itinerário
                                               na construção, desde então,
                                               autônoma
                                               do que é.


                                                            III

                                               Movimenta-se em ciclos
                                               mais ou menos incessantes,
                                               todavia contínuos,
                                               porque experimenta
                                               o silêncio da madrugada escura
                                               que o conduz ao nascer
                                               à festa de cores e luzes,
                                               convite ao crescer,
                                               o deixar-se em suspiro último,
                                               possibilidade de transcender
                                               além do que é.


                                                                                                 
                                                                                                    Paz e Bem. 
                                               

Boas-vindas ao Blog.

            Estimadas ( os ) Amigas ( os ):

            Aventurei-me com este blog. Pretendo, simplesmente, e uma vez por semana, apresentar escrito sobre tema que tenho por relevante. Inaugurando o caminho, e o blog, motiva-me posicionamento, que assumi, e que tem me rendido inúmeros debates e explanações nos mais variados auditórios, Brasil afora, a dizer com opção pelo humanismo integral e que, necessariamente, passa pela defesa da vida em  todas as suas dimensões, mas como tudo está a se iniciar aí vai a notícia sobre a Semana Nacional em Defesa da Vida e o Dia do Nascituro, e poema que expressa tudo o quanto tenho sentido, a propósito.